Quando penso na arte romântica, nas paisagens bucólicas europeias do século 18 e 19, na figuração não geométrica e não abstrata, nas metáforas visuais do mundo ideal, idílico e por vezes alegórico dos quadros de enormes proporções desse período, eu sempre acabo fugindo do espaço entre molduras. A arte romântica de Turner, por exemplo, com suas aquarelas macias, quase palpáveis, me dão vontade de fechar o livro e correr para a janela. Especialmente quando o dia está acabando naquela luz avermelhada e quente, naquele azul quase lilás que aparece entre nuvens, como se fosse o vento refrescante suavizando as matizes solares.
Sempre me lembro de um ditado francês que diz: “Quand le doigt montre le ciel, l’imbécile regarde le doigt”. “Quando o dedo aponta o céu, o imbecil olha para o dedo”. A arte, para mim, é o dedo. Especialmente a arte romântica das grandes paisagens de proporções monumentais, os jardins assimétricos, as fontes de água que borbulham, representando o sem-fim dos ciclos da vida. Quando olho para Turner, tenho vontade de olhar para o céu.
De uma forma menos literal, entretanto, pode-se entender que o objetivo maior da arte é, também, apontar para coisas mais difíceis de enxergar: medos, dúvidas, verdades. Transcender a arte é treinar o olhar para fazer o caminho do dedo para o céu. Quem se estratifica no contexto e na interpretação olha demais para o dedo. Sim, essas duas coisas são importantes mas não são o principal. Elas apontam o caminho do olhar, do coração, do verdadeiro propósito de toda e qualquer obra de arte: expandir horizontes. Mesmo que sejam os horizontes dentro da gente.
A gente nunca fica do mesmo tamanho depois de olhar para uma obra de arte.