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Ciclo Cinema Corpo e Moda – Identidade de Nós Mesmos

Último filme do ciclo foi o documentário Identidade de Nós Mesmos ou Anotações para Roupas e Cidades, de Wim Wenders.

 

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Wim Wenders acompanha Yohji Yamamoto em seu atelier, durante as provas para a coleção que será apresentada em Paris. Seu processo criativo é exposto de maneira delicada, silenciosa. Nós e o documentarista somos quase testemunhas de um momento especial, que Yamomato nos deixa assistir.

Além, é claro, do grande assunto do filme — o processo criativo de Yamamoto — há muitas argumentações paralelas: as cidades e como elas influenciam o processo, a roupa e a imaginação; o olhar do documentarista e sua avaliação da imagem que produz; a roupa e a mulher que a veste.

Trata-se de um documentário, não de uma história com começo, meio e fim. Há argumentações, não narrativas. A única coisa que tem começo, meio e fim é a produção e o desfile do estilista em Paris. Perguntar-se sobre as semelhanças e diferenças entre Paris e Tóquio, o ato de documentar, a forma como se fotografa e filma, tudo é questionado pelo diretor/narrador.

Mas vamos falar de Yamamoto… Um artista, mesmo. Um universo inteiro. Ao começar a criar para a mulher européia, ele comenta sobre as diferenças de proporção em relação ao corpo da japonesa. Além da diferença física, outros aspectos relevantes para a criação são percebidos: as emoções, a geografia, os pensamentos, o modo de vida daquela outra mulher. É outro mundo.

O processo de criação começa com a escolha do material ou com a escolha da forma. Certas formas pedem certos materiais e certos materiais pedem uma determinada forma. Cores são texturas e emoções. Por isso ele só cria em cima do preto, que para ele traz emoções mais condensadas, como a junção de todas as cores. Depois ele escolhe a matiz que será feita a peça. Mas sua paleta possui poucas cores, geralmente muito preto, algum branco e toques de vermelho.

 

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Certas formas pedem certos materiais e certos materiais pedem uma determinada forma. Cores são texturas e emoções.

Repare no tecido estruturado do blazer e das formas drapeadas do vestido/casaco. À cada um, seu material.

 

Yohji gosta de ressaltar que é japonês mas não é apenas japonês. Suas roupas não tem nacionalidade. Seu estilo é a expressão de um sentimento. Por isso, é impossível copiá-lo. Sua linguagem é única e reconhecível. Ao criar uma roupa, ele busca descobrir a “essência” dela no processo de fabricação. Gosta de ser chamado de costureiro, gosta de se debruçar sobre os moldes, presta atenção nas costuras. Adora explorar as assimetrias: lembra que quando algo é simétrico, incomoda. O ser humano não é simétrico em suas emoções, em seus pensamentos e até mesmo em seu corpo. Suas peças de roupa são tão convidativas que ele gostaria que as pessoas “morassem” nelas e se identificassem a tal ponto que, se alguém visse o casaco de alguém jogado no chão, não diria “é o casaco do fulano” mas sim “é o fulano”.

 

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Os pespontos, o preto e o branco e as assimetrias: marcas de Yamamoto.

 

Sobre estilo, ele deu uma aula: estilo pode ser uma prisão de repetições. Mas aceitar seu estilo te dá a chave para abrir essa prisão e tornar-se o guardião dela, deixando entrar somente o que você quer. Nesse aspecto, temos que pensar também no que passa e no que fica, o efêmero e o permanente. Vítimas do consumismo geralmente só enchem os armários de efemeridades, coisas que passarão, roupas que em nada se parecem com quem as comprou. O permanente é não apenas o clássico, mas algo prático, que dá a liberdade para quem o veste ser e exercer as funções que se propõe. Pessoas não deveriam consumir roupas, deveriam ser aquelas roupas. Claro que a moda movimenta o mundo. E moda não é apenas roupa: podem ser pessoas, filmes, livros, músicas e até mesmo prédios. E muitas vezes, moda também acomoda a necessidade: se você está morrendo de frio vai precisar de um casaco. Ele pode ser até assim ou assado, mas em primeiro lugar vem sua necessidade de não morrer de frio. Assim que as pessoas deveriam consumir. Consumindo tudo o que podem, acabam consumindo a vida e tudo que podem comprar como objetos, sem ter nem ao mesmo consciência desses objetos. No minuto em que estão na mão, já se tornam obsoletos. O consumista só quer o que ainda não tem, mesmo que já tenha muito. “Felicidade seria obrigar as pessoas a viverem de forma simples e sem comprar”, frase de Yamamoto que me soou como marketing, porque se todos obedecessem ele iria à falência. Mas concordo com a primeira parte: viver de forma simples também significa comprar menos e com mais consciência das suas necessidades.

 

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Reparem que em suas criações a mulher aparece sempre muito verticalizada, altiva, oferecendo um destaque para o colo e o rosto. Yamamoto significa “ao pé da montanha”. Talvez seja assim que Yohji se coloque: aos pés dessa mulher ativa, trabalhadora, executiva, guerreira. Mulheres como sua mãe, que o criou sozinha depois que seu pai morreu na guerra. Aliás, a guerra incomoda Yohji. “A guerra ainda não acabou dentro de mim”, diz ele. O sentimento de luto e de falta de futuro parece assombrá-lo e revoltá-lo. Mas ele sublima a guerra dessa forma: vivendo o presente, “desenhando o tempo”, vivendo na moda de forma atemporal e anti-glamurosa. “A simetria perfeita é feia. Precisamos quebrar, destruir um pouco”. Desconstruindo linhas, construindo sonhos. Assim segue Yamamoto.

 

Pra conhecer mais sobre o estilista, visite o site oficial. As fotos foram tiradas daqui, daqui, daqui e daqui. Essa menina é fã dos japoneses e escreve coisas lindas. Pra pensar muito.

 

Nota Importante: Esse artigo foi escrito baseado nas minhas anotações do encontro. São ideias coletadas por mim mas partilhadas por todos os que estiveram presentes. Para ver os palestrantes e seus currículos, clique aqui.

 

Obrigada ao pessoal da PUC-SP, por promover com tanto comprometimento e profissionalismo um evento com tanta qualidade. E também por me convidar! Até o próximo!

 

Inspiração cinematográfica

Já que quarta-feira é o momento inspiração e eu só estou pensando na relação moda/cinema esta semana, inspiração de looks cinematográficos que todo mundo já copiou ou quis ter na vida, desejos em suas épocas ou até hoje… Deleitem-se!

 

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Kate Winslet e o luxo de Titanic, 2001.

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Os cabelos lisos e repartidos no meio, a cintura alta e os bordados da Julieta de Franco Zefirelli, 1968.

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Marylin e seu vestido voador em O Pecado Mora ao Lado, 1955.

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O cabelo joãozinho e os vestidos delicados de Mia Farrow em O Bebê de Rosemary, 1964.

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O pretinho de Givenchy em Audrey – Bonequinha de Luxo, 1961.

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Rita Hayworth e o strip-tease mais memorável do cinema – Gilda, 1946.

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O figurino futurista de Blow Up – Depois daquele beijo, 1966.

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Anita e seu decote coração na Fontana di Trevi – La Dolce Vita, 1960.

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Olhando pra essa cara de brava, você pode não acreditar. Mas Theda Bara, com sua Cleópatra (1917), foi uma das primeiras divas a lançar moda: o cabelinho chanel negro com franja e os vestidos franzidos. Até Elizabeth Taylor, quase 50 anos depois, se inspirou nela para fazer a rainha do Egito.

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As pin-ups safadinhas e os bad boys de Grease (1978). Gente, olha a wet legging aí!!!

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O filme francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de 2001, não só influenciou a moda, como também a decoração, a música e a fotografia.

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E você? Lembra de mais algum?

 

 

Camadas

O outono é tempo de camadas. Explico: no começo do dia está friozinho, no meio esquenta muito e parece verão, à tardezinha bate um ventinho de novo… Pra não ficarmos com o “look cebola”, montei um passo a passo de sobreposições, o famoso layering, pra inspirar os dias de outono.

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Primeira sobreposição simples: duas regatas, a de baixo de malha preta, mais justinha, a de cima mais solta. Legging é bom no frio ou no calor e sandálias meio fechadas meio abertas, pra encarar as duas temperaturas.

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Segunda sobreposição: uma peça pequena de tricô, que cubra os ombros mas não exagere. Um bolerinho ou mini-poncho é perfeito. Também serve pra acrescentar um toque de cor.

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Agora esfriou de vez: casaco pra fechar por cima. O bolerinho de tricô vira cachecolzão. Escolha um blazer com modelagem anos 80, ombros mais largos e corte mais masculino. Se quiser um visual menos “agressivo”, coloque um cardigan compridinho. Mas nesse caso, a sandália e o legging pedem um pouco mais de atitude, daí o blazer.

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Se quiser aproveitar a onda étnica, use um xale ou pashimina com motivos de arabescos ou indianos. É feminino e diferente.

 

Ah, outro dado importante: eu não estou usando acessórios, mas em cada caso é legal pensar num acessório marcante: só com a primeira sobreposição, usaria um colarzão. Com o bolerinho de tricô e com o blazer, um anel enorme numa das mãos. Com a pashimina, usaria um brinco e/ou o anel. Experimente em frente ao espelho… 😉

 

 

O que eu estou ouvindo

Minha trilha sonora ultimamente tem misturado elementos diversos, todos inspiradores.

 

YAEL NAIM

Yael Naim é dona de uma voz suave que canta em inglês, francês e hebraico. Seus arranjos são meio folk, meio sexy e convidam a brincadeiras. Às vezes, tem um tom de melancolia que não chega a deprimir mas faz pensar. Além disso, a menina tem um estilo todo lindo, confortável, boêmio e despretensioso. Vale a pena! Ah, a moça também tem site.

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MADELEINE PEYROUX

Diva total, voz de Billie Holiday. Pra quem gosta de jazz (ou quer tentar), experimente. A música convida à dança e ao sorriso. Estou ouvindo Dreamland mas tem outros dois cds da cantora disponíveis para venda. Escolha o seu. Seu estilo é delicado, muita seda, cores suaves ou estampas marcantes, que parecem ter sido pintadas à mão.

 

 

AMY WINEHOUSE

Falem o que quiser do estilo suicida de vida, dos escândalos, das drogas, mas nunca esqueçam o principal: essa menina sabe cantar. Sua voz nem é tão de veludo mas sua interpretação é de rasgar o coração. Qualquer um dos cds de Amy vale a pena. No momento, estou ouvindo Back to Black, um cd de 50 minutos de música da melhor qualidade.

E não dá pra falar de Amy sem falar no seu corajoso estilo “sessentinha dos infernos”, com o mega hair e o delineador, suas duas marcas registradas. Pra se inspirar, não pra copiar!

 

Pra quem quiser tentar fazer o cabelão, esse cara ensina tudo: http://www.youtube.com/watch?v=mVoxsRmZrC8

 

 Se bem que, agora, ela está assim:

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Ui! Onde essa menina vai parar???

Moda Gótica

 

 

Quando era adolescente, gostava de heavy metal e roupas pretas. Usava coisas pavorosas, me achando a rebelde (totalmente sem causa, diga-se de passagem). Mas quem não fez sua loucura adolescente que atire a primeira pedra!

Até mais ou menos um mês atrás tinha um vestido preto de veludo até o pé, que era a própria Morticia Adams! Hoje eu vejo muita gente gótica mas extremamente fashion, cheia de estilo e até com uma pitada de cor aqui e ali – geralmente os meninos nos acessórios e as meninas nas unhas e na maquiagem.

Bem, o estilo gótico agora é arte. O FIT Museum em Nova York abriu uma exposição chamada “Gothic: Dark Glamour”. O mais legal é que, além de mostrar as roupas, o visitante experimenta uma sensação que é a inspiração de quem cria e veste essas roupas: a cenografia é composta de castelos abandonados, laboratórios à lá Frankestein e labirintos angustiantes. As peças de estilistas famosos contracenam com o ambiente e o espectador, criando uma atmosfera inesquecível.

Pena não poder estar lá pra ver! E pena nenhum museu ou galeria moderninha tomar uma iniciativa assim por aqui! Por enquanto, deleitemo-nos com as figurinhas interessantes que passeiam pelo centro da cidade ou pelo bairro da Liberdade aos domingos…

Acho que dá…

Modelo da Burda Moden - 1956

Enquanto se leva mais tempo e, às vezes, se gasta mais, para encontrar algo que não incomode suas posturas éticas, está muito em voga a moda vintage. Acho isso ótimo, como já comentei neste blog, porque é uma atitude anticonsumista e extremamente inteligente. Não precisa ter marca famosa, mas pode ter uma ligação afetiva, o que é muito mais relevante.

Se você usa o vestido da sua avó, reformado ou não, esse vestido tem uma história que você está ajudando a contar. Não é sair por aí caçando num brechó de marca um vestido que não tem nada a ver com sua história de vida e seu gosto, e ainda por cima é meio caro. Essa busca é boa quando é feita dentro de casa, sozinha ou com amigas (mãe, pai, irmãos e irmãs também podem ser amigos). Redescobrir a história daquela peça, daquele anel, reencontrar uma foto de alguém usando aquele vestido (“quando e para quem foi essa festa?”) é muito mais do que simplesmente se vestir bem. É viver bem.

Aliás, amei a sapatilha aí de cima e o tom do verde é fantástico… É só tirar o tutu!